Aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) viram como positivo o saldo final de suas duas viagens internacionais, a Londres e Nova York, a menos de duas semanas das eleições.
Para eles, a presença do chefe do Executivo nos dois principais eventos mundiais do momento, em especial sua fala na abertura da Assembleia-Geral da ONU, reforçaram sua figura presidencial e lhe garantiram ampla exposição midiática.
Por outro lado, viram como deslize o discurso feito na sacada da residência oficial do embaixador brasileiro em Londres, no qual o presidente adotou um tom de campanha eleitoral para seus apoiadores. Ele foi acusado de desrespeitar o luto nacional no Reino Unido por causa da morte da rainha Elizabeth 2ª.
A avaliação é de que Bolsonaro poderia ter agradecido a presença dos apoiadores em Londres, mas ter reforçado que a ocasião era de luto, deixando as declarações de campanha para outro momento.
Em sua fala a apoiadores na capital inglesa, o presidente adotou tom eleitoral. Disse que será eleito no primeiro turno e repetiu bandeiras conservadoras. Decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) proibiu que a campanha utilize imagens do discurso e determinou a remoção de vídeos publicados nas redes de Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
As imagens, contudo, já haviam sido replicadas nas redes em páginas bolsonaristas, assim como outras de Bolsonaro com apoiadores e indo à cerimônia fúnebre oficial.
A campanha via como central uma foto de Bolsonaro com o rei Charles 3º —o que foi conseguido.
O objetivo era reforçar a imagem de Bolsonaro como um governante que participa de eventos internacionais importantes e que é recebido por personalidades relevantes.
A passagem por Londres ainda ficou marcada por um vídeo que o presidente gravou em um posto de gasolina, para dizer que o combustível no Reino Unido é mais caro do que no Brasil —a despeito de a renda britânica ser também maior. Também houve o registro de confusões de bolsonaristas com um opositor solitário e hostilidades do grupo a jornalistas.
Bolsonaro foi a Londres para participar do velório de Elizabeth 2ª, acompanhado da primeira-dama Michelle e do pastor Silas Malafaia, além do coordenador de comunicação da campanha, Fábio Wajngarten, e do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Para o entorno do presidente, as viagens eram obrigatórias e não havia como o presidente permanecer no Brasil, mesmo com a proximidade da campanha. Segundo o Datafolha, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem 45% da preferência do eleitorado contra 33% de Bolsonaro.
Nas Nações Unidas, nesta terça (20), Bolsonaro usou o espaço para defender seu governo e se dirigir ao público interno. O presidente atacou a esquerda e Lula —sem citá-lo nominalmente— e mencionou casos de corrupção na Petrobras.
O discurso foi descrito por integrantes da campanha como efetivo e de acordo com o planejado, sem grandes surpresas. Ao contrário de edições anteriores, o presidente adotou um tom mais moderado e acatou sugestões do Itamaraty de evitar ataques diretos a outros países, como vinha fazendo com Chile e Argentina.
A fala também foi amplamente divulgada por veículos de imprensa nacionais, o que aliados chamaram de “horário eleitoral gratuito”.
Interlocutores de Bolsonaro acreditam que sua presença nos eventos internacionais pode não ter virado votos de eleitores indecisos, mas tampouco fez com que perdesse apoios.