Horas antes de embarcar em uma viagem à Rússia em meio à crise pelo temor de invasão da Ucrânia, o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que o Brasil é um país soberano e que tem assuntos comerciais e de defesa para tratar durante a viagem.
“Temos assuntos para tratar sobre defesa, sobre energia, muita coisa para tratar. E o Brasil é país soberano. Vamos torcer pela paz lá, que dê tudo certo”, disse o presidente nesta segunda-feira (14) a apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada.
Aliados de Bolsonaro e também a comunidade internacional tentaram demover o presidente de realizar a viagem. Os Estados Unidos pressionaram o governo brasileiro, alegando que a viagem transmite a mensagem de que o Brasil apoia as ações do Kremlin no Leste Europeu.
“O mundo todo tem seus problemas. Se você começar a querer resolver o problema dos outros, a gente… Se for possível, [se] minha palavra lá, de paz, for para ajudar, tudo bem”, disse ainda o presidente. As declarações foram divulgadas por uma página bolsonarista no Youtube.
Bolsonaro embarca às 18h de Brasília para Moscou. Ele irá se encontrar com o presidente Vladimir Putin na quarta-feira (16).
“Sabemos do momento difícil que existe naquela região, temos negócio com eles, comerciais, em grande parte nosso agronegócio depende dos fertilizantes deles”, declarou Bolsonaro.
Os EUA e os aliados da Otan, a aliança militar ocidental, acusam Putin de preparar uma invasão da Ucrânia, como fez em 2014, quando anexou a Crimeia. Moscou, por sua vez, rejeita a expansão da Otan sobre territórios próximos à Rússia e quer a garantia de que a Ucrânia jamais fará parte do grupo.
Às vésperas da viagem, o Itamaraty divulgou uma nota na sexta celebrando as relações diplomáticas do Brasil com a Ucrânia. “A gente quer paz, mas tem de entender que todo mundo é ser humano. Vamos torcer para dar certo. [Se] depender de uma palavra minha, o mundo teria paz”, afirmou ainda Bolsonaro.
A viagem à Rússia será a mais polêmica e arriscada de seu mandato até aqui, com uma curta passagem pelo centro da maior crise de segurança da Europa em década.
Depois do encontro com Putin, Bolsonaro visita a Duma (Câmara baixa do Parlamento) e um fórum de empresários brasileiros e russos. Acompanham o presidente na viagem o chanceler Carlos França, Walter Braga Netto (Defesa) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo).
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB), voltou a afirmar nesta segunda-feira (14) que a viagem não deve causar problemas ao Brasil. “Na semana passada, o presidente da Argentina [Alberto Fernández] esteve lá [na Rússia], zero trauma”, disse Mourão a jornalistas.
Mourão sugeriu que a tensão na região é “fruto das pressões de ambos os lados”. “Na minha opinião, vai ficar nesse jogo de pressão. A viagem do presidente é de um dia só, sem maiores problemas”, afirmou.