O presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou nesta quinta-feira (27) que o país criará, já neste verão europeu, centros de análise de pedidos de refúgio no território da Líbia, projeto que desencadeou críticas na Itália.
A proposta foi apresentada durante uma visita de Macron a uma estrutura de acolhimento de refugiados em Orléans, cerca de 130 km ao sul de Paris, e tem como objetivo evitar que refugiados e migrantes forçados se arrisquem a cruzar o Mediterrâneo Central.
Desde o início do ano, 94.444 pessoas realizaram a travessia, um crescimento de 6% em relação ao mesmo período de 2016. “Neste verão, a França criará hotspots na Líbia para examinar candidaturas de solicitantes de refúgio”, declarou o presidente.
Se a ideia vingar, as pessoas pediriam proteção da União Europeia antes de se arriscar no mar para chegar à Itália.
Mas a proposta encontra forte resistência de Roma, de quem a Líbia é ex-colônia e que há anos tenta liderar os esforços para resolver a crise política no país africano e frear a imigração clandestina no Mediterrâneo.
“Não se pode, até da parte da França, seguir com piadas improvisadas. Os campos devem ser geridos por organizações internacionais como o Acnur. Não é um assunto que se pode enfrentar com piadas improvisadas”, disse o ministro italiano das Relações Exteriores, Angelino Alfano.
Pouco depois, a ministra francesa para Assuntos Europeus, Nathalie Loiseau, em visita a Roma, garantiu que os centros de análise de pedidos serão desenvolvidos em parceria com o Acnur e a Organização Internacional para as Migrações (OIM).
Por sua vez, o premier da Itália, Paolo Gentiloni, foi mais comedido e afirmou que seu governo já tem uma agenda definida, que envolve um “plano de acolhimento” e o favorecimento à “reconciliação das forças”.
“Todas as iniciativas são bem-vindas, mas deve estar claro que os passos são esses, os problemas de estabilização [da Líbia] não se resolvem de modo diferente”, acrescentou.
Procurado pela ANSA, o Palácio do Eliseu, sede da Presidência da França, contradisse o próprio Macron e desmentiu a hipótese de abrir centros de refugiados na Líbia já neste verão europeu, que termina no fim de setembro. Segundo algumas fontes, isso só acontecerá quando a segurança for totalmente restabelecida no país africano.
Na última terça-feira (25), o presidente conseguiu costurar um acordo entre os dois principais atores das divisões na Líbia: o primeiro-ministro de união nacional Fayez al Sarraj e o general Khalifa Haftar, que se comprometeram com um cessar-fogo e em realizar eleições no primeiro semestre de 2018.
Na Itália, essa ação de Macron foi vista como uma forma de “atravessar” o papel do país nas negociações na Líbia. A nova divergência entre Roma e Paris surge em meio à nacionalização do estaleiro francês STX, que estava para ser assumido pela empresa pública italiana Fincantieri.
Tanto esse assunto quanto a questão líbia foram temas de uma conversa por telefone entre Macron e Gentiloni, que haviam mostrado sintonia até a posse do francês, mas agora têm lidado com algumas diferenças que podem pôr à prova o bom relacionamento entre Roma e Paris. (ANSA)