Ex-diretor da Defesa Civil de Salvador (Codesal) em Salvador, Gustavo Ferraz está de volta ao tabuleiro político de Lauro de Freitas. Com participação ativa nas redes sociais, ele selou sua mudança para o Patido Verde (PV) e articula uma candidatura a prefeito em 2020, após ter desistido em 2016 de ser vice de Mateus Reis (PPS), que, por sua vez, perdeu para a atual prefeita Moema Gramacho (PT). De lá para cá, a vida de Gustavo passou por uma verdadeira reviravolta. Envolvido nas investigações das malas de R$ 51 milhões, que levaram à prisão do ex-ministro Geddel Vieira Lima, Gustavo ficou preso por 40 dias em 2017 e continuou sendo investigado, até que foi inocentado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no ano passado, em decisão unânime da Corte.
Em entrevista exclusiva ao ‘Lauro Notícias’, Gustavo falou sobre o episódio, não poupou críticas à gestão de Moema, comentou sobre como pretende construir sua plataforma política e alfinetou até integrantes da oposição, como o empresário Teobaldo Costa e Chico Franco (DEM), a quem acusou de estar ao lado da gestão petista na cidade, além de afirmar que Mateus Reis deixou de ser uma referência política para se tornar liderança de Teobaldo.
Confira a entrevista na íntegra abaixo:
Lauro Notícias (LN): Após a campanha de 2016, muita coisa aconteceu. Você seria candidato, desistiu, acabou sendo preso em 2017, solto no mesmo ano e absolvido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no ano passado. Agora percebemos, pelas redes sociais, que está de volta ao jogo político e já avisou que pretende ser candidato a prefeito em 2020. Como pretende construir esse caminho?
Gustavo Ferraz (GF): Acho que conversando com as pessoas. O que eu quero fazer é um grande debate sobre propostas, projetos da cidade. Apresentando os números, a realidade da cidade que nós temos hoje e que cidade nós queremos para o futuro. Eu acho que esse é o grande desafio desse próximo pleito que se aproxima. É você parar um pouco os ataques infrutíferos, do ponto de vista político, e passar a discutir ideias. Eu acho que a esquerda em Lauro de Freitas ela envelheceu demais. Ela não consegue apresentar projetos que levem a cidade para o futuro.
LN: Como pretende enfrentar a prefeita Moema Gramacho?
GF: Eu acho que o enfrentamento com o PT tem que ser um enfrentamento com conhecimento. Você apresentando soluções factíveis, dentro da realidade. Lauro de Freitas vive um atraso imenso dentro desses 16 anos (governos de Moema e Márcio Paiva). Temos um sistema que foi forjado há 20 anos com uma população de 100 mil habitantes. Nós temos hoje 200 mil habitantes com o mesmo modelo de prestação de serviços à população. Ou seja, você hoje tem engarrafamentos, dificuldade na mobilidade urbana, 36% da população ganha meio salário mínimo. Em uma cidade que é a sétima economia do estado, você ainda trabalhar na idade da pedra praticamente é complicado.
LN: Você selou sua ida para o PV, certo?
GF: Sim, estou no PV. Já estamos trabalhando para estruturar o partido em Lauro de Freitas. Tenho participado de reuniões, encontros.
LN: Em uma campanha, acredito que você sabe que será alvo de ataques por conta da prisão e todo aquele imbróglio do caso das malas de R$ 51 milhões. Como pretende lidar com isso? GF: Vou lidar com a maior tranquilidade de uma pessoa que é inocente. Aliás, não é nem inocente porque nem julgado eu fui. Se tem um candidato em Lauro de Freitas que tem atestado de pureza sou eu. Eu fui investigado, fiquei 40 dias preso, devassaram a minha vida inteira e não encontraram nada. Eu acho que sou o único caso no STF que recebeu 5 a 0. O ministro Edson Fachin, que é bastante rigoroso, foi quem comandou aquele processo. Então, está tudo certo. Quem acredita na Justiça, acredita em mim.
LN: Mas o assunto volta e meia é lembrado no meio político…
GF: Os petistas vão continuar falando nisso e defendendo Lula livre, que tem lá o sítio de Atibaia, roubou a Petrobras. Vou ter que enfrentar com toda a tranquilidade do mundo. Àqueles que tiverem dúvida, eu vou explicar. Eu quero discutir a cidade, enquanto eles vão lá falar de Geddel e tal, tal, tal, me imputando coisas que não tive participação, está comprovado, que continuem com esse debate que não leva a lugar nenhum.
LN: Qual sua plataforma?
GF: Basicamente a descentralização dos serviços públicos, revisão dos contratos que temos, ampliação dos PSFs [Programa de Saúde da Família]. Temos uma rede que não atende mais uma população de 200 mil habitantes. Precisamos reestruturar fisicamente as escolas, fazer uma revisão do projeto pedagógico para que a comunidade escolar possa contribuir. Temos que trabalhar a cultura, separando do entretenimento. Não pode continuar dando dinheiro público para os blocos botarem corda, segregar as pessoa, impedir que as pessoas transitem.
LN: Qual são os principais problemas da atual gestão, na sua opinião? GF: Eu vejo que o que nós temos aí, no final das contas, é uma falta de planejamento brutal, e que isso não é uma exclusividade do PT. O ex-prefeito [Márcio Paiva] também contribuiu muito para isso. Ele assumiu o município sem nenhum tipo de planejamento. Eu vejo que eles são muito semelhantes na forma de administrar. Eles administram sempre naquela parte do ‘o que ocorrer’. Então eles acordam para saber qual é o problema do dia. Eles não estão aqui planejando a cidade.
LN: Como você compara as gestões de Moema e Márcio?
GF: Acho que Moema e Márcio têm uma marca. Eles escolhem maus colaboradores. Eu ouso a dizer que metade dos colaboradores que hoje estão com Moema estavam com Márcio. Então o que você tem aí? Um vício na estrutura, na gestão. As pessoas que já estão há anos fazendo o desempenho nesse mesmo trabalho. Moema pode ser uma excelente política, uma boa mãe, uma ótima avó, mas ela é uma péssima gestora. Ela destruiu a qualidade de vida em Lauro de Freitas.
LN: Mas com base em que você fala isso?
GF: Lauro de Freitas vem perdendo sua identidade cultural ao longo dos anos. Muitas pessoas de fora. Aqui você não conta sua história, aqui não tem um museu, uma biblioteca pública. Uma cidade que muitas vezes seu povo não se sente de Lauro de Freitas, se sente de Salvador. Se tornou uma cidade dormitório. E as pessoas perderam a identidade da cidade. As crianças que estão nas escolas públicas não vêem a história da cidade contada. Uma cidade que nasceu com os escravos, com os quilombolas, e você não conta essa realidade. Você tem comunidade indígena aqui dentro, que Moema tenta destruir agora com o PDDM [Plano Diretor de Desenvolvimento Municipal].
LN: Agora vamos voltar para a política. Naturalmente, para se viabilizar, você terá que dialogar com outras pessoas. Como estão estas conversas? GF: Muito difíceis. A oposição em Lauro de Freitas hoje duas pessoas fazem: Coca Branco [vereador] e eu. Ele é o único que faz oposição na câmara. Apesar de às vezes eu e ele termos diferenças na forma de se posicionar, entendo que ele é o único. Como ele fica quase solo no processo ele quase se sente isolado. Do outro lado tem o ex-prefeito Márcio, o ex-vice prefeito…
LN: Qual a atuação de Márcio Paiva nesse jogo?
GF: Nenhuma, mas se coloca como opositor, quer estar no jogo. Quer estar de forma escondida nas sombras, fazendo articulação no bastidor, mas não vai pra rua, para a imprensa criticar, elogiar.
LN: E Teobaldo Costa, dono do Atakarejo, existe algum diálogo?
GF: Teobaldo só fala que vai botar tempo integral nas escolas e que as crianças vão ter cinco refeições. É muito pouco para quem quer ser prefeito. Na política, a moeda só tem dois lados, ou é cara ou é coroa. Não existe o terceiro lado. Ele tem que se posicionar, dizer o que acha de Moema. Não adianta ir para o aniversário da esposa de Rui Costa [do PT, governador do estado], bater papo com Moema fingindo que não é oposição. Quando chega na rua, fica criticando a prefeita no ouvido das pessoas. Tem que fazer isso em público. A gente quer saber o que ele pensa. LN: Então não há qualquer articulação dentro da oposição?
GF: A questão é que não temos que discutir quem vai comandar, mas temos que discutir o que queremos para o município, para saber se dentro desse conjunto de ideias estaremos juntos. A forma como é conduzida, é equivocada. Se percebe que tem pessoas que não querem debater, não querem construir absolutamente nada, e tem pessoas que só querem ter o poder. ‘É meu, eu tenho dinheiro, eu faço e aconteço’. Enquanto isso, estamos debatendo, discutindo. Vejo Coca como aliado nisso, embora não tenha conversa com ele. É uma pessoa que admiro. Os outros estão todos embaixo da mesa.
LN: Então a oposição de Lauro de Freitas está órfã de uma liderança?
GF: Márcio teve uma chance, mas com o fracasso dele isso pulverizou. Hoje as pessoas querem o protagonismo para ser a referência lá à diante. Vai acontecer com o PT também, se não se eleger. Vamos ver vários partidos disputando o protagonismo. PCdoB [Partido Comunista do Brasil], o PSB [Partido Socialista Brasileiro], parcela do PT, aliás, estavam com Márcio. Admiro Coca por isso, porque ele escolheu o caminho mais difícil. Poderia estar aí com seus carguinhos, mas preferiu discutir a cidade, e isso tem que ser valorizado.
LN: E o DEM de Chico Franco, não há conversa com ele também?
GF: O DEM de Chico Franco está com Moema. O trio de Chico Franco tocou três vezes no Carnaval de Lauro de Freitas. Ele se diz opositor. Para com isso. Oposição é oposição. O DEM aqui é PT. Ou alguém aqui tem dúvida disso? O partido do prefeito ACM Neto, que flerta com Bolsonaro, em Lauro de Freitas é PT, é ligado a Rui Costa e a Moema. E isso causa um mau estar terrível.
LN: Em 2016, você foi vice de Mateus Reis. Há alguma conversa com ele?
GF: Nenhuma conversa. Respeito muito ele. Acho que ele está fazendo um jogo que eu não toparia que é abrir mão do que acredita para apoiar Teobaldo. Deixou de ser uma referência política na cidade para ser uma liderança de Teobaldo. Não posso conversar com uma pessoa que já definiu por um caminho que é apoiar um candidato. Ele optou por isso, a cidade toda já sabe que ele se tornou um coach de Teobaldo, é o cara que apresenta Teobaldo nas comunidades. Até a cor verde, que Mateus usou na campanha [em 2016], agora é de Teobaldo.
LN: Caso não consiga viabilizar a candidatura, você cogitaria abrir mão novamente para apoiar alguém no campo da oposição?
GF: Não. Eu lhe digo que, pela experiência, por todas essas razões, da falta de interesse coletivos, não dá pra fazer isso da última hora. Com todo respeito às lideranças maiores, como o prefeito ACM Neto. A forma de ganhar é apresentar ideias e a discussão da cidade. Não defendo a tese de que tem que juntar para ganhar.